Olá,

Permite-me partilhar a minha história, não apenas como uma forma de desabafar, mas também como um apelo à consciencialização e à ação contra a terrível realidade que me assombrou durante tempo demasiado. Escrevo esta carta para partilhar a minha jornada e experiência como sobrevivente de bullying. Não é fácil revisitar estas memórias, mas acredito que é importante comunicar o que passei e como isso moldou quem sou hoje.

Durante anos, fui alvo do que chamamos de bullying na escola. As lembranças dolorosas desses momentos estão gravadas dentro de mim, como cicatrizes invisíveis que ainda afetam a minha confiança e o meu bem-estar emocional. Desde comentários maldosos até agressões físicas, fui submetido a um tormento constante que me deixou profundamente marcado… fui alvo de todo o tipo de humilhação e violência. O bullying começou quando eu era apenas uma criança, e foi uma fase da minha vida que se estendeu por anos. Sentia-me impotente, como se estivesse preso num ciclo interminável de dor e vergonha. Cada dia era uma batalha para sobreviver emocionalmente e, às vezes, até mesmo fisicamente.

O bullying não é apenas uma questão de palavras cruéis ou ações violentas; é um ataque à alma e à dignidade de uma pessoa. Fui ridicularizado pela minha aparência, pelas minhas escolhas e até mesmo por quem eu era como indivíduo. Cada insulto, cada empurrão, cada olhar de desprezo, cada “não-convite”… alimentava um sentimento de solidão e desamparo dentro de mim.

É fácil pensar que o bullying é apenas uma fase passageira da vida escolar, mas para muitos de nós, as suas consequências perduram por anos a fio. Afeta não apenas o presente, mas também o futuro, minando a autoestima, a confiança e sabotando a capacidade de confiar nos outros. A cicatriz do bullying não desaparece facilmente… permanece como uma sombra silenciosa, moldando as nossas interações e perspetivas. O impacto do bullying na minha vida foi profundo e duradouro. Comecei a acreditar nas mentiras que me contaram, convencido de que eu era indigno de amor e respeito. A escola tornou-se num lugar de terror, onde me sentia constantemente ameaçado e inseguro. E mesmo quando estava em casa, não conseguia escapar dos efeitos nocivos do bullying, pois ele seguia comigo em todos os lugares, nos meus pensamentos, nas minhas emoções e na minha pele.

No entanto e, apesar de toda a dor que experimentei, quero que minha história seja um testemunho de esperança e resistência. Porque, assim como o bullying pode deixar marcas profundas, também é verdade que podemos encontrar força na adversidade. Através do apoio e do amor de amigos e familiares, encontrei a coragem para enfrentar os meus agressores e procurar ajuda. Aos poucos, aprendi a valorizar-me e a defender-me, recusando-me a permitir que o bullying me definisse. Descobri uma coragem que não sabia que possuía e uma determinação para lutar contra a injustiça.

Hoje, olho para trás e vejo como estas experiências moldaram a minha perspetiva sobre a vida. Aprendi a empatia e compaixão, reconhecendo a importância de tratar todos com gentileza e respeito, independentemente das suas diferenças. Descobri a minha própria voz, pronta para falar em nome daqueles que ainda estão a sofrer em silêncio. E, acima de tudo, encontrei a esperança de que um mundo sem bullying é possível, se nos unirmos para criar uma cultura de aceitação e inclusão.

Ninguém deveria sentir-se sozinho diante desta dura realidade. É imperativo que as escolas, as comunidades e a sociedade como um todo se unam para combater este problema insidioso. Educação, empatia e intervenção precoce são essenciais para criar um ambiente onde todos se sintam seguros e respeitados.

Então, se estás a ler esta carta, por favor, sabe que não estás sozinho. Espero que minha história sirva como um lembrete da importância de te opores ao bullying em todas as suas formas. Não deixes que o silêncio seja o teu carcereiro; fala, procura ajuda porque a tua voz importa… e muito. Juntos, podemos criar um mundo onde o bullying não tenha lugar, onde a gentileza, o amor e o respeito sejam os pilares da nossa existência e convivência.

Ninguém merece ser alvo de ódio e crueldade, e todos têm o direito de viver em paz e segurança.

Com esperança e determinação,

Gonçalo