Pessoalmente | Serão as mulheres fortes e inteligentes nas suas experiências sexuais?
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Serão as mulheres fortes e inteligentes nas suas experiências sexuais?

Violência no namoro, abusos em contexto escolar, abusos em contexto profissional… é fundamental que as gerações mais jovens entendam o verdadeiro significado de respeito e consentimento na sexualidade, mas para isso é igualmente fundamental falar no direito, consciência e reclamação das mulheres ao prazer.   

A maneira como as raparigas e os rapazes vivem as suas experiências sexuais é muito diferente, enquanto que os rapazes se envolvem sem grandes constrangimentos na sexualidade, as raparigas sentem desde cedo que não devem ter prazer; sentem desde cedo o peso cultural de que as mulheres devem ser meigas, disponíveis, sem desejo ou necessidades para serem atendidas. 

Muitas adolescentes iniciam a sua vida sexual com uma configuração expressivamente traumática, com dor física e/ou percepção do sexo como “deprimente”, “humilhante”, “degradante”. Apesar de muito se falar sobre sexo, a verdade é que os comportamentos de risco e desrespeito na sexualidade proliferam desde muito cedo. Isto é particularmente verdade para o sexo oral (que muitos adolescentes consideram menos íntimo ou importante do que uma relação sexual vaginal) ou para o sexo anal (uma forma das adolescentes conservarem a sua “virgindade” ou reduzirem o número de parceiros). Segundo um levantamento de informação realizado por Peggy Orenstein, a prática de sexo oral é também a possibilidade de muitas raparigas se sentirem desejadas, outras vezes a maneira de terminar rapidamente uma situação desconfortável, ou indesejada, quando não sentem vontade de ter relações sexuais. Também, no âmbito das relações de namoro, a sexualidade pode ser vivida com algumas unilateralidades… tal como nos confirma a partilha de muitas raparigas que admitem serem as únicas a praticar sexo oral aos seus namorados, sendo que nem sempre é resultado da recusa dos rapazes, mas sim do seu próprio impedimento. 

Muitas raparigas sentem vergonha do seu corpo e dos seus genitais, o que se correlaciona como as mulheres viverão um dia mais tarde a sua sexualidade. Debby Herbenick, uma investigadora da Universidade de Indiana, afirma que a auto-imagem genital das raparigas representa, cada vez mais, uma fonte de pressão e julgamento pessoal; a depilação púbica total como uma medida preventiva contra atitudes humilhantes ou para que os rapazes não se sintam enojados. A tendência de depilar provocou, igualmente, um aumento das labioplastias que, segundo dados de Peggy Orenstein, aumentou 80% entre 2014 e 2015; de tal forma que a Faculdade Americana de Obstetras e Ginecologistas emitiu uma declaração alertando para questões de segurança da cirúrgia e efeitos secundários que incluem cicatrizes, dormência, dor e uma diminuição da sensibilidade sexual. 

Sara McClelland, uma psicóloga da Universidade do Michigan fala de “justiça íntima” quando se pronuncia sobre como deve ser desfrutada a sexualidade entre homens e mulheres e como se define o “suficientemente bom”, sendo que muitas raparigas usam a “satisfação do seu parceiro” como critério de avaliação do sexo (e aqui independentemente do sexo do parceiro); muitas vezes o facto de não sentir dor, notar mais proximidade ou desejo da parte do parceiro, bem como ele atingir um orgasmo são fatores suficientes para uma boa avaliação da experiência sexual… o que na verdade é um padrão muito baixo para avaliar a satisfação sexual das mulheres. 

Onde estamos a falhar? Na forma como vemos e falamos sobre sexualidade com raparigas e rapazes, desde cedo. É fundamental ajudarmos raparigas e rapazes a ganhar consciência do seu corpo, dos seus genitais, da masturbação como um meio de exploração das suas necessidades, desejos e limites. Reconceptualizar o sexo como um conjunto de experiências que incluem atração, excitação, consentimento, toque, fantasia, criatividade prazer, confiança, segurança, intimidade, comunicação, afectos… é uma forma de proteger as gerações mais jovens de relações violentas, humilhantes ou desumanizadas, de gravidezes indesejadas e de doenças. É importante que a sociedade crie recursos nas escolas, locais de trabalho e justiça para que a violência relacional não impere. É importante que as famílias estimulem os jovens a serem curiosos, exigentes e contestatários no que representa a sua intimidade. 

 

Vera Lisa Barroso, Pessoalmente ®

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